Thursday, November 02, 2006

Gota de amor

"Tá difícil de entender, por mais que eu procure ..."
A família de Margareth tem uma secretária que geralmente tira todos os membros da família do sério. Intromete-se em conversas sem ser convidada. Não obedece a regras simples como não deixar a folha-de-louro (tempero) ao colocar o feijão no refratário, não desce o lixo no horário adequado, o que atrai moscas para dentro de casa, não troca os panos de pratos diariamente. Pasmem! Não trata os donos da casa por senhor e senhora, é você, pronto e acabou! Faz-se de vítima, de coitada sempre: na hora do almoço, fica em pé ao lado da mesa olhando a família de Margareth almoçar para em seguida sentar-se, isso quando não almoça em pé na cozinha ou na área de serviço. Fica sempre, nos momentos que todos estão assistindo TV ou reunidos na sala, sentada em um dos degraus da escada observando tudo igual a um cachorro sem dono. Indignada com essa situação diária, Margareth, amiga de longos anos, veio desabafar comigo e disse:

_ Não agüento mais essa situação! Quero essa mulher longe da minha casa. Que droga! Empregada a partir de hoje me chamará de senhora e irá obedecer cada regra, senão está fora. Ela tira minha paz! Em seguida sua filhinha bradou:

- É mesmo tio. Ela é intrometida, fica ouvindo a conversa dos outros... Ca-ram-ba! Ela é empregada e acabou tem de obedecer. Eu a odeio. Que saco!
"...não encontro explicação"
Perplexo com a situação, solicitei que ambas se informassem um pouco sobre a vida da secretária Filó, onde a mesma nascera, quem eram seus pais e como a conheceram e depois viessem me contar....Na semana seguinte, Margareth veio visitar-me e começou a relatar:
"Tô carente, tô sozinho, sem saber o que fazer..."
_Pesquisei item por item o que você me pediu. Pois bem, Filó é do interior do Ceará. Sua mãe era alcoólatra, ela apanhava muito quando criança e se não me engano aos noves anos começou a trabalhar em casa de família, casa de pessoas que nem conhecia... Ao invés de bonecas, brincava de arrumar e dar conta de casas alheias. Em algumas casas que trabalhou, era espancada pela patroa e sabe-se lá o que mais acontecera!! Nessa vida passou por diversas casas. Afastou-se da sua família e veio morar na cidade grande, onde conheceu o medo, a falta de dignidade e a injustiça. Tem 2 irmãos deficientes. Foi perdendo alguns membros da família, de longe mesmo sabia a notícia por telefone, porém muitas vezes não podia comparecer ao enterro... Só enviava um pouco de dinheiro e chorava a ausência da presença do ente querido na cidade grande, aonde o destino a levou. Não aprendeu a ler e nem escrever. Um dia parou diante de uma igreja batista, passou a freqüentá-la, se batizou e veio a conhecer nossa família na mesma igreja. Essa é a Filó, minha secretária... Nesse momento Margareth estava com os olhos embaçados!
"Amor eu clamo por você!"
Sabe Margareth, disse eu, essa história que você me contou acontece todo dia com diversas pessoas, em diversos lugares do mundo, inclusive aconteceu comigo. Suportar alguém diferente de nós e que não obedecem as regras da nossa própria casa é realmente difícil. Porém, um dia conversando com um sábio, Dr. Richard Belchior, católico, o mesmo me relatou que em toda sua existência, pois na época possuía 80 anos, não conhecera um homem como o Pai do Amor, um homem que amou pessoas sem distinção, independente da raça e religião, da condição financeira e da personalidade. Através de diversos estudos e leituras ele descobriu que para aquele homem as pessoas eram mais importante que coisas, que status, que paz familiar e observou que aquele homem possuía vários admiradores e seguidores, principalmente aqueles que pediam diariamente: Pai derrama uma gota do teu amor sobre mim para que eu venha suportar as adversidades, para que eu venha amar como você amou, para que eu venha me colocar no lugar das pessoas que estão a minha volta e entenda a situação que as mesmas se encontram, para que eu venha abençoá-las. Esse sábio mostrou-me que a partir do momento que ele entendeu o segredo da gota do amor sua vida mudou. A gota do amor fez o sábio enxergar pessoas, tolerá-las e amá-las. Sendo assim...

-Eu mesma posso concluir- disse Margareth- Com a gota do amor posso ver que a tão sofrida Filó é leal e dedicada. Acorda cedo, pois a mesma mora em nossa casa... Lava a louça do dia anterior, faça sol ou faça chuva, frio ou calor... Ela poderia dormir até mais tarde. Lava, passa e guarda a roupa de todos os membros da família... Poderíamos até auxiliá-la nisso, somos cinco... Faz o nosso almoço todos os dias... Quando chegamos cansados, a mesa está posta, temos o trabalho de só lavar as mãos... Cuida dos animais de estimação e mesmo quando está doente trabalha... E sabe como a enxergo na escada agora? Isolada, porque nós da família Bittencourt, não tivemos um dia sequer a humildade de fazer com que ela se sentisse uma de nós, de proporcionar meios para que ela saísse da sua ilha e viesse habitar a nossa cidade...
"Deixa, deixa o amor te abraçar, minh´lma te aquecer, Tudo vai brilhar!"
Abraçou-me e com lágrimas nos olhos, olhou para o céu e disse:
_ Perdão pai, derrama sobre mim a partir de hoje A GOTA DO TEU AMOR!

1 comment:

Anonymous said...

MA
RA
VI
LHO
SO

Muito bom, muito bom mesmo, realmente muito bom, sem duvida muito bom, ótimo, excelente...

to impressionado!

Que o Sr. continue te motivando a escrever!

Bjs Paulo